sábado, 17 de janeiro de 2009

O Censo e a Toponímia

As invenções mais importantes para a Humanidade foram aquelas que se transformaram em algo tão essencial ao dia a dia, que passaram a fazer parte das leis da natureza, sem ter o nome do inventor associado. É claro que não falo da gravidade, ‘inventada’ por Sir Isaac Newton!! Essa, é claro, já lá estava, e ele só a descodificou matematicamente. Mas falo de coisas como o controlo da utilização do fogo, da roda, da linguagem e sua estruturação, da domesticação de plantas e animais. Falo dos números. Há um infindável cortejo de invenções elegíveis para este mostruário de coisas indispensáveis à nossa vida actual, e que parece que sempre existiram.

Mas hoje gostaria de abordar a importância da numeração. Não me detendo demasiado nos pormenores, como a invenção do zero, bendita criação árabe, que o génio grego, ou a organização romana, não alcançaram, a verdade é que um mundo sem números teria que ser completamente diferente. Pergunto-me se os números não terão sido uma consequência directa da acumulação. Há um momento em que já não basta dizer ‘muito’ ou ‘pouco’, ‘longe’ ou ‘perto’, é preciso quantificar. E, naturalmente, para a organização das sociedades em sistemas mais complexos, como o Estado, a numeração é fundamental. Não apenas para identificar, como também para poder medir propriedades e riqueza. Para poder estabelecer os impostos. Para controlar.

Eis outra questão que filosoficamente nunca foi resolvida. A contradição entre a liberdade e o controlo. Ainda há países onde se discute se a obrigatoriedade de se ter um bilhete de identidade não atenta contra a liberdade do indivíduo. Mas, por outro lado, parece claro que o Estado também não pode cumprir cabalmente com as suas obrigações sem que haja um controlo das suas populações. Não há planificação sem estatística, e não pode haver estatística sem censo. E censo é controlo. Mas parece fundamental.

Assim como parece fundamental poder localizar qualquer ente jurídico, colectivo ou individual. O que não faz qualquer sentido é um indivíduo, ou uma empresa, colocarem no espaço onde devem escrever o endereço: Rua Sem Nome, Casa Sem Número. Infelizmente isso é o que acontece com muito boa gente, em particular na cidade de Luanda. Quase me atreveria a dizer, com a maioria da gente. Por qualquer motivo, as novas ruas e as novas casas deixaram de estar identificadas. Os bairros lá vão tendo nome porque a vox populi logo se transforma em nome oficial, e assim aparecem nomes coloridos, sem que se saiba bem porquê, como é o caso do Rocha Pinto, Terra Vermelha, Cantinton, Morro Bento ou Talatona. Mas a maioria das ruas permanece por identificar. As casas por numerar. Chegou-se ao cúmulo de vermos empresas, como a EDEL, a numerar as casas nalguns bairros, para poderem fazer contratos com os moradores.

A toponímia é essencial para a organização de uma cidade. A não atribuição de numeração às propriedades cria não só dificuldades práticas ao cidadão, pois este nunca sabe muito bem como indicar onde vive, como afecta tudo o que se relaciona com o mesmo. A polícia, a justiça, as empresas, os bancos, os seguros, têm como denominador comum a necessidade de poder identificar de uma forma inequívoca o local de residência ou o estabelecimento das entidades com quem lida, para poder cumprir com a sua função.

E como será possível fazer um censo sério sem este pressuposto?

2 comentários:

Unknown disse...

Sim, mas é inegável que o censo é um estrumento de poder!...

Anónimo disse...

É inegável. Mas parece claro que é preciso que se exerça o poder. O que temos que exigir é que se faça de forma responsável e transparente.