domingo, 1 de fevereiro de 2009

As Tradições

No acumular de experiências, os Povos foram seleccionando comportamentos e regras que se transformaram em tradição. Faz parte do processo de evolução das sociedades. As tradições, necessariamente datadas, porque adaptadas às condições que as determinaram, foram mudando ao longo dos séculos. É o que parece normal.

Infelizmente não é raro fazer-se recurso á tradição para travar o progresso. E isso é válido tanto para o apedrejamento das mulheres adúlteras, quanto para o corte da mão do ladrão, ou o pagamento de alembamento, lobolo, ou como lhe quisermos chamar. É válido para a poligamia.

O mal da tradição é servir para legitimar situações na contramão da história e da lei, carregando-as de uma carga social que faz com que as pessoas que possam discordar tenham receio de ser apelidados de anti-populares. Ou de hereges! O mal da tradição é poder ser utilizada como arma de arremesso de pessoas mal-intencionadas, sempre que as mesmas procuram agitar com base mais na emoção que na razão.

As recentes alusões a uma eventual proposta para a inclusão na Constituição da possibilidade da poligamia, não parece fazer qualquer sentido. Assim como não me pareceu fazer sentido as respostas pouco enérgicas dos dirigentes dos partidos que foram confrontados com tal questão. Parece estarem todos preocupados com a sua situação pessoal, ou com o efeito das suas palavras num eleitorado predominantemente machista. O problema que se coloca quando se fala de poligamia, é o do respeito pela mulher (a não ser que se esteja a alargar a possibilidade de haver não apenas ‘A Outra’, como canta o Matias Damásio, mas também ‘O Outro’!). O problema é igualmente o da preservação do núcleo familiar, e dos tais valores morais, que foram referidos no discurso de fim do ano de Sua Excelência o Presidente da República. É claro que há questões que a sociedade devem abordar sem rebuço, e encontrar as soluções que se impõem. Não se pode enterrar a cabeça na areia e fingir que as situações não existem. É evidente que se deverá, apesar de haver legislação para isso, reforçar os direitos das famílias que se formam ‘fora de casa’, em particular o direito dos filhos. Mas o que parece evidente igualmente é que não se deve encorajar esse tipo de solução, em particular quando o país caminha a passos largos para a normalidade, e as situações decorrentes das fragilidades criadas pela instabilidade, tendem a acabar.

As tradições (e as religiões) procuraram legitimar situações que afectavam as sociedades no momento em que elas se estabeleceram. Nada é eterno. A vantagem de sermos seres humanos está na possibilidade de sermos objectivos nas análises que fazemos, e encontrarmos as soluções mais adaptadas, sem os espartilhos das regras impostas pelo passado, muitas delas desactualizadas. Não desrespeitar o passado e a tradição, mas enquadrá-los de forma consciente na sociedade actual. Procurar manter o que é positivo, como a protecção da família, e o respeito pelos mais velhos, e revogar o que está caduco.

O exemplo que é muitas vezes esgrimido, o da quinta esposa do Jacob Zuma, não parece colher. É só mais um dos vários maus exemplos que deu.

4 comentários:

Unknown disse...

"O problema que se coloca quando se fala de poligamia, é o do respeito pela mulher (a não ser que se esteja a alargar a possibilidade de haver não apenas ‘A Outra’, como canta o Matias Damásio, mas também ‘O Outro’!). O problema é igualmente o da preservação do núcleo familiar, e dos tais valores morais"

Que razões Demográficas, económicas ou religiosas justificariam o alargar da possíbilidade de haver "O Outro" como nos sugere? O que é respeitar a mulher? do ponto de vista relação homem mulher e os números demográficos? quantas mulheres são excluidas com afidelidade da dita racionalidade do ser Humano? porque mesmo o Tibet citado por MOORE Stephen (2002) demostra razões demográficas para o efeito e nenhum homem se sentiria desrespeitado perante aquela situação. Espero que não estejamos a fazer confunsão entre o amantismo e a poligamia! porque conhecemos famílias poligámicas felizes e com todo o respeito a mulher e os filhos, o que Zuma faz não é poligamia, é sacanagem, ignorância e demostração de uma incapacidade de interação e socialização! Como é que consiguiria conviver com o povo um indivíduo que nem com uma mulher consegue se relacuionar?

Soberano Kanyanga disse...

Amigos,
Considero este texto tecnicamente bem elaborado, tendo em conta a natureza evolutiva das sociedades e dos costumes. Estamos num mundo em interacção e mutações. O que é hoje tradicional deixá-lo-á de ser dentro de duas dezenas de anos.
Mas julgar ou acolher relações múltiplas (sem defender o "Zumismo") é um caso que deve ser individualizado. Explico melhor: Para caso um caso. As razões e os fins diferem.
Gostaria também de pedir aos cibernautas que escrevessem sobre as amantes Bispos e padres católicos.
Há quem divide de relações promíscuas que esses homens de batinas levam?

Unknown disse...

MESU MA JIKUKA,Victor Fontes deve andar uito oucupado porque apesar das buas postagens dificilimente responde aos comentários feitos em suas postagens. abraços

Anónimo disse...

Caro Chacate, peço desculpa pela resposta tardia. Na ralidade, quando me refiro a 'O Outro', sugerindo uma 'igualdade' dos géneros pela negativa, estou a fazê-lo de forma sarcástica, pois parto do princípio que na sociedade machista em que vivemos, isso seria impossível. Penso que a preservação do núcleo familiar, e o respeito entre todos, é o caminho. Mesmo nos casos em que se consegue atingir um clima de relativa cumplicidade, num ambiente poligâmico, tal advém sempre do assumir por parte da mulher de um posição de inferioridade na relação.