segunda-feira, 12 de maio de 2008

As Ilhas – Um apelo!

É natural que haja um certo deslumbramento com o conjunto de realizações que se estão a levar a cabo por todo o País. São prédios a surgir todos os dias. Estradas que finalmente rasgam as paisagens deslumbrantes do interior. Novas escolas e centros médicos que aparecem um pouco por todo o lado, ainda que nem sempre com o recheio humano capaz de lhes dar a funcionalidade e qualidade necessárias… As notícias animadoras acumulam-se, e vemos os números da nossa empresa pública número um a terem uma dimensão que a faz ser considerada necessariamente um actor a ter em conta, não apenas no nosso, mas no palco da economia internacional. É verdade que esse momento cria uma situação de grande fragilidade política, pois há uma auréola de riqueza, de ostentação até em muitos casos, que não é partilhada pela maioria da população, pois os benefícios do desenvolvimento ainda lá não chegaram. É um momento crítico, pois é normalmente nestes períodos de grande optimismo, de crescimento desenfreado, que não se acautela o futuro. Não basta impedir o retorno à guerra, e a prevenção de acções que façam proliferar a miséria, e não conduzam a uma melhor nível de educação e saúde. Devemos escolher cuidadosamente o caminho naqueles campos em que as consequências não são perfeitamente calculáveis, e a irreversibilidade da acção não permita que o arrependimento cure o mal que poderia ter sido prevenido.

Um dos campos onde deveremos ter mais cuidado é o do ambiente. É evidente que não se podem fazer omeletes sem partir alguns ovos. Estamos de acordo que não é possível aspirar ao desenvolvimento do nosso país sem que as condições ambientais sofram algum impacto. Mas é absolutamente necessário que esse impacto seja controlado, e que não seja permitida a alteração gratuita das condições naturais. Não devemos permitir que se destruam as florestas do Norte de Angola, para satisfazer a ganância de alguns sôfregos que pretendem maximizar os seus lucros no curto prazo. Não vamos destruir o equilíbrio das espécies marinhas, permitindo quotas de pesca que o ponham em causa. Não vamos deixar que desapareça o que resta dos nossos animais selvagens, permitindo a caça desenfreada. Estejamos atentos à poluição das cidades. Vamos olhar o País com responsabilidade, e harmonizar o desenvolvimento com a conservação daquilo que temos.

E é nesse âmbito que me questiono como justificar o surgimento, ou melhor, o ressurgimento da ideia peregrina de construção de ilhas artificiais na Baía de Luanda? Não só é um projecto absolutamente sem sentido, pois estamos num País amplo, com enormes extensões de terra para urbanizar com custos ambientais limitados, como estamos a alterar de forma irreversível um património único que tem a nossa cidade: a sua Baía perfeita. Se estamos de acordo com a necessidade de se tratar a Baía, tornar a marginal funcional e atraente, não podemos concordar com o surgimento desse projecto, a que não chamaria megalómano, mas sim de mau gosto, que não traz à cidade mais do que um exemplo negativo de utilização de recursos, para a satisfação de uma ínfima minoria. Isto para não me aventurar em terrenos que, simples cidadão, não tenho competência para ajuizar, como a oportunidade de se aumentar ainda mais a concentração de projectos numa área já tão congestionada, como é a Baixa de Luanda. Por favor, repensem esse projecto.