sábado, 10 de janeiro de 2009

Reflexões Avulsas

Não é a proximidade que junta as pessoas, é a vontade.

Desde que o homem é homem que se questiona. Talvez seja esse exactamente o traço que o distingue dos outros animais. A dúvida leva à evolução, mas tem igualmente, em cada ponto de interrogação, o germe da infelicidade, do desconforto.

Das perguntas que me faço com mais frequência é a de qual é realmente o grande objectivo de quem tem que liderar uma comunidade, um País: trazer-lhe a satisfação material, ou a felicidade? Colocando a questão de uma forma mais objectiva e perceptível: quem vive uma vida mais satisfatória, o ‘empresário’ que acumulou riqueza material, tem dois 4x4, e três viaturas de mais ou menos luxo, que abarrotam o quintal da sua vivenda principal, num dos condomínios fortificados do Luanda-Sul, cinco filhos com necessidades variadas (há um que até tem o gosto pelo estudo, e fez um masters em Londres, outro gosta de fazer umas ravs pelas noites luandenses, e os outros ainda não cresceram o suficiente para definir as tendências), alimenta pelo menos mais uma família, neste afã de ser generoso, e, claro, vive preocupado com as formas de fazer crescer o negócio, pois parar é morrer, ou o chefe de família koi-san, que repete os rituais que os antepassados praticam há séculos, e se reúne com a comunidade todas as noites para uma boa história à volta da fogueira, partilhando os bens recolhidos ou caçados por todos, sem mais bens do que aqueles que consigo carrega, mas com olhos para ver o céu que, por aqueles lados, continua a ser estrelado, maravilhosamente estrelado? Ou, num exemplo talvez mais directo: há mais satisfação num lar cubano, em Cuba, com uma maior protecção social, solidariedade, e menos gadgets de última geração, ou num lar cubano em Miami, de um balsero acolhido na gigantesca roda americana?

Um dos paradoxos do nosso tempo é a constatação de que as sociedades quanto mais materialmente ricas são, mais problemas derivados da solidão e falta de solidariedade, enfrentam. Os assassinatos sem sentido, os suicídios, as vinganças, acabam por coroar vidas vazias, em que as pessoas vagam quais universos perdidos na escuridão dos dias.
Para muitos, tudo justifica os tais cinco minutos de fama. É claro que se puder ser mais do que cinco minutos, melhor.

Começamos a sentir, no nosso país, os efeitos dessa cultura de uma forma preocupante, diria mesmo, assustadora. Quando se escorraçam os pais, e se maltratam crianças inventando-se os mais variados pretextos. Quando a porta está aberta para qualquer charlatão nos comprar a alma em troca dos mais variados dízimos, prometendo a conquista do bem estar com a intervenção directa do altíssimo, algo está mal. O olho gordo do vizinho incomoda, e, a comunidade deixa de ser um refúgio, para ser uma ameaça. O que se valoriza é o que se tem, e não o que se faz.

A ênfase nos valores morais do discurso de Sua Excelência o Presidente da República, não poderia ser mais apropriada. Mas sou apologista dos pequenos gestos. Ainda que se possa procurar menosprezar um acto vindo de um país que encarna a cultura do imediatismo, o recente cartão amarelo mostrado aos responsáveis da indústria automobilística americana, que foram solicitar aos órgãos de decisão do seu país uma ajuda de muitos milhares de milhões de dólares, para salvar as suas empresas, mas não prescindiram dos seus jactos particulares, não deixou de ser uma interessante fábula. Digna de Esopo.

Para que possa ter impacto, não basta pregar a moral, é preciso praticá-la.

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