segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Decidir em quem votar estudando as listas?

Na última crónica sugeri que os eleitores tentem saber quem são os integrantes das várias listas – e a forma como essas listas foram decididas - para terem mais um elemento de decisão sobre em quem votar.

Um amigo reagiu chamando-me a atenção para o facto de não ser tão linear essa forma de preparar as nossas escolhas. Já agora, e abrindo um parêntisis para ser eu a chamar a atenção aos meus amigos do Cruzeiro do Sul… a manchete da última capa não reflectia o espírito do que foi dito por Isaac dos Anjos na entrevista. E mesmo que ele tivesse dado um tom ameaçador às suas palavras seria o tipo de afirmação a não amplificar. Parece-me o caso onde o bom senso do jornalista deve entrar em acção. Ao amplificar tal mensagem seria obrigação do jornalista adoptar uma atitude pedagógica e/ou desafiar o entrevistado explorando se ele teria consciência da enormidade do disparate dum político levantar fantasmas ameaçadores na fase em que estamos.

Mas voltemos à questão da opção de voto com base nas listas. Segundo o meu amigo, estamos habituados a escolher partidos sem obrigatoriamente pensarmos em quem está à frente (ou por detrás…) do partido que escolhemos. Entre nós ser convidado por um partido para integrar a sua lista é como que um favor e uma promessa de futuros benefícios… por isso, nós escolhemos o partido e a este caberá o papel de distribuir favores aos que considerar “merecedores”. Exagerando um pouco cai-se na lógica onde o deputado vale apenas pelo braço que deve levantar quando chegar a altura de aprovar propostas que não ajudou a desenvolver. Se esta for uma das muitas regras (não escritas) do jogo político entre nós, então é algo que temos de lutar por alterar. Temos de conhecer quem nos representa e, se for caso disso, força-los a representarem-nos realmente. Para isso temos de saber quem eles são e qual foi a sua trajectória para chegar a esta posição de candidato a nossos representantes.

Mas aqui – alertou também o meu amigo - colocam-se várias dificuldades: quanto tempo nos levará a escrutinar com o minímo de cuidado as centenas de candidatos? que critérios utilizar para avaliar a qualidade destes candidatos?

Começando pela última questão, como utilizar a experiência como critério? Experiência de quê? De ter feito carreira dentro dos respectivos partidos? Talvez sim dependendo de como essa carreira foi feita mas, muitas pessoas com quem tenho conversado sobre estes assuntos expressam que gostariam de ver renovação no meio dos políticos profissionais. Uma renovação por gente mais comprometida com ideias, com princípios e com linhas políticas. Mas, saber quem defende o quê, para além das palavras, não é coisa fácil. Por isso seria interessante conhecer as carreiras políticas ou cívicas de quem se nos apresenta como candidato a nosso representante. Infelizmente o nosso processo político, sem envolver armas, é ainda jovem o que nos retira a possibilidade de observar como os nossos candidatos se foram comportando ao longo do tempo. Méritos nos desportos podem ser interessantes para mobilizar gente mas no parlamento será necessário mais do que isso. Procurar os méritos num determinado domínio profissional também me parece um mau critério. Os profissionais devem aconselhar e podem sempre ser contratados para dar opinião como especialistas. A maior parte das grandes opções politicas raramente podem ser tomadas numa base técnica. Ou seja, é possível encontrar técnicos do mesmo ramo a defenderem políticas opostas. Uma pesquisa feita recentemente pela BBC em Angola no início deste ano mostra que o factor mais importante na base da escolha foi o partido “ter um bom líder”. Na mesma pesquisa detectou-se que muitos consideram que para governar bem o país necessitamos de líderes fortes e de especialistas. Interessante a combinação… no fundo parece demonstrar que entre nós se admira mais as decisões, e portanto a política, na base da autoridade mais do que na base da negociação de interesses e perspectivas alternativas.
Quanto ao problema de dar muito trabalho a escrutinar tantos candidatos… é verdade mas o que está em jogo para todos nós é mais do que a decisão que resolvemos atirando uma moeda ao ar. Uma forma de limitar a nossa pesquisa poderia ser olhar para os primeiros quarenta de cada lista. Mas garanto-vos que pode ser muito interessante olhar para quem foi colocado no fim da lista? Será que devemos começar por aí?

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