segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Filosofia com sabor local

As palavras podem ter tantos sentidos diferentes e podem conter tantas ideias... mas também podem ser só palavras, com pouco sentido, ou mesmo sem nada lá dentro. Permitam-me brincar um pouco com as palavras e com as ideias (ou com a falta delas...) adaptando algumas linhas filosóficas, ao nosso contexto local.

Uma coisa que acontece com as ideias, e com as palavras, é serem frequentemente entendidas pela metade, ou mesmo completamente deturpadas. Mas consigo ver um papel positivo e criativo nesta salada de palavras e ideias a serem constantemente recriadas, exactamente por ficarem pela metade. Quem tem tempo para ficar a pesquisar e a reflectir profundamente sobre as ideias e as palavras? Isso é para os teóricos, dizia um tipo com um copo de cerveja na mão, eu cá sou pessoa de acção!

Pensando com os meus botões e tentando aproximar algumas palavras que fui lendo ou ouvindo por aí, um pouco à pressa é verdade, e observando muita acção, por vezes desavisada... fui identificando uma série de linhas “filosóficas” e o seu reflexo na prática:

• O construtivismo parece ser uma linha marcante no nosso pensamento. Ao longo destes últimos anos, tem-se manisfestado na tentativa de transformar o país num canteiro de obras. Obras de construção civil...
• O positivismo é outra linha que há quem dispute como sendo talvez ainda mais marcante do que a anterior. Só ver avanços e melhorias e ter dificuldade em enfrentar a menor crítica. Asseguro-vos que mesmo entre as organizações da sociedade civil, esta linha é muito forte, ao analisar a sua acção. Já os partidos da oposição seguem quase que um positivismo de sentido contrário.
• O materialismo foi antes dos anos 90 bastante influente. Apesar da queda do muro de Berlim vê-se que ficou alguma influência. É vísivel na sofreguidão para acumular tudo o que é bem material: carros na garagem, apartamentos, (e "companheiras" lá dentro... dizia um “filósofo” local). Talvez a linha dos constitucionalistas polígamos seja uma derivação deste tipo de materialismo.
• O espiritualismo poderá parecer para alguns como contraditório com o materialismo, mas é visível o pragmatismo com que alguns associam os dois acumulando bens materiais e consumindo, sofregamente, bebidas espirituosas...
• As ideias de Confúcio, o confusionismo, são adoptadas um pouco por todos – com os condutores de Luanda entre os mais radicais seguidores - mas algumas organizações da sociedade civil parecem ser também expoentes desta linha de pensamento.
• Estava alguém a sugerir o zedunismo como linha de pensamento mas apercebi-me de que era disparate e se estava a fazer confusão com hedonismo (busca do prazer e recusa da dor como razão de ser da vida). Este hedonismo é o que acabamos por seguir na forma como vivemos as outras linhas filosóficas.

Nota-se também que a abordagem científica marca a acção política e de mobilização pública. O princípio de que “nada se cria nem nada se perde, mas tudo se transforma” resulta em que não se espere pelo surgimento de coisas a partir do nada. Daí as acções de programação da espontaneidade dando-lhe, em simultâneo, movimento (por causa do “tudo se transforma”...). E foi assim concebido o Movimento Espontâneo que parece contar com bastante programação para não se deixarem as coisas ao acaso e à espontaneidade.

Voltando às marcas que nos ficaram de outros tempos temos o internacionalismo que continua a influenciar-nos e que nos leva a tentar acompanhar as nossas equipes de futebol nas digressões ao exterior. Estes acompanhamentos são frequentemente coloridos com movimento e com espontaneidade. Outra influência do internacionalismo é a forma como, dada a influência cubana, muitos de nós usam a língua (estou a falar do portunhol...). Por falar nisso... acho que já chega de dar à língua. Chego à conclusão que isto de filosofia tem o que se lhe diga.

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