quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O nosso desenvolvimento

Seremos um país atrasado? Com base em que padrões? E se formos? Tiramos algum proveito de falar sobre isso ou é melhor camuflar o nosso estado real com construções vistosas?

Creio que muitos de nós vive na negação, em relação ao nosso real estado de desenvolvimento. Um pouco como o indivíduo que foi pobre e que depois de aumentar os seus rendimentos, esconde por vergonha as suas origens. Eu gosto dos que assumem de onde vieram e que pelo seu trajecto mostram que tudo pode ser transformado.

Atraem-me uma série de questões, que me parecem merecer discussão: (1) O que significa isso de atraso/desenvolvimento? (2) Que critérios são os mais apropriados para "medir" o atraso / desenvolvimento? (3) Quem é que pode, ou deve, medir e avaliar o nosso atraso/desenvolvimento? (4) Em que direcção como país, e cada um de nós como indivíduo, estamos a evoluir?Sejam quais forem as respostas, uma coisa é certa, o estado de desenvolvimento / atraso dos países ou de um indivíduo é algo dinâmico. O estado de desenvolvimento é algo que tem de ser cultivado, como as plantas, sob o risco de se regredir e perder os avanços conseguidos. Progredir e regredir em relação a quê? Eu diria que a possibilidade de escolher é o que melhor integra as várias possibilidades do desenvolvimento. Quem tem mais conhecimento (conhecimento tecnológico mas, também, sabedoria), quem tem mais recursos e riqueza, quem tem mais poder tem normalmente maior poder de escolha. Esta poderia ser uma boa de resposta à questão sobre o que significa desenvolvimento. Assim, quem vive dependente pela pobreza, limitado pela ignorância, ou coagido nos seus movimentos ou na sua liberdade de expressão, vive num estado menos desenvolvido do que aquele que pode optar sobre o que vai consumir, ou fazer, ou sobre o que dizer.

Talvez seja de distinguir entre a capacidade de escolha como grupo e o somatório das capacidades de escolha individuais. Há países que possuem uma considerável capacidade de escolha pelo seu poderio militar, pelo conhecimento tecnológico e pela riqueza que acumularam (por vezes por meios violentos e à custa da liberdade e do desenvolvimento de outros) mas que ao mesmo tempo podem oferecer opções limitadas aos seus indivíduos. Os indivíduos podem, no seio de um país poderoso e rico, viver vidas de opressão e condicionamento, seja pela pressão para consumirem, para pensarem ou para se comportarem de determinada maneira, seja pela limitação violenta dos seus movimentos.

Onde estaremos nós, em Angola, no que toca ao desenvolvimento, se o encararmos da forma como o descrevo acima? Creio que estamos mal. Parece-me que mesmo aqueles que por vezes pensamos serem poderosos vivem sob uma enorme pressão. Pressão e falta de liberdade que obriga a um esforço permanente para projectar permanentemente a imagem de vencedor, de rico e de todo poderoso. Mas esta falta de liberdade que refiro aqui é talvez um luxo para os não sabem como alimentar os filhos, ou são forçados a abandonar as suas casas ou terras sem ter a possibilidade de escolher.

O desenvolvimento a que devemos aspirar deverá libertar os pobres da opressão provocada pela miséria e vulnerabilidade face à violação dos seus direitos, tal como deve libertar os “ricos” que vivem oprimidos por terem de se mascarar no que não são.

Quanto às outras perguntas que ficaram no ar, falaremos na próxima semana.

2 comentários:

Anónimo disse...

Saudações! O seu blogue apresenta muita matéria para reflexão...

Carlos Figueiredo disse...

Caro Zé, obrigado pelo comentário. Se quiser deixar as suas reflexões, sinta-se em casa. Uma coisa boa de escrever é ajudar a libertar-nos (a quem escreve e quem possa sentir-se estimulado a responder)