terça-feira, 9 de setembro de 2008

Em quem votar?

Como gostaria de ter direito a mais votos! Como gostaria de poder introduzir nuances no meu voto. Mas, na realidade, só tenho um votozinho para dar. É daqueles momentos onde fica clara a importância da organização e da acção colectiva como forma de ultrapassar as limitações que cada um de nós, se contar só consigo, possui.

Em quem votar? É a pergunta que ocupa a cabeça de muitos de nós. Há os “felizardos” que não são afectado por essa dúvida. Há os que já sabiam em quem votar até antes de haver campanha. Até antes de haver eleições marcadas. São os que, como me dizia um velhote há uns bons anos, no Bailundo, “o nosso pai, mesmo quando não tem juízo, é sempre o nosso pai...”. Como não tenho esta visão da política sinto as angústias de ter de fazer uma escolha, consciente do poder limitado que tenho.

Alguns argumentos que para alguns resultam numa escolha rápida e fácil a mim levam-me a pensar. Alguns dos dilemas que me complicam a cabeça:

1. É claro que necessitamos de preservar e valorizar a experiência governativa que, como país, temos vindo a acumular. Será que por isso deveremos votar no partido que está no poder? Não será que isso apenas quer dizer que, seja qual for o partido que ganhar, se deve valorizar a experiência e o mérito? E, por outro lado, com o GURN temos só um partido no poder ou temos vários? Não poderão todos os integrantes no GURN reclamar esse acumular de experiência? Em relação a preservar a experiência só fico com uma certeza: seguramente que não voto em quem pensar mudar pessoas competentes por outras menos competentes, mas da sua “confiança”. Mas, essa escolha de quadros independentemente da sua competência é algo a que estamos habituados. Enfim, estou convencido da necessidade de estabilidade no aparelho do Estado, na manutenção dos competentes e no dispensar dos incompetentes ou corruptos. E isso deve ser feito seja qual for o partido a ganhar.

2. O argumento da obra feita – infra-estruturas - parece-me também muito pouco linear para me ajudar a escolher. Grande parte do que está a ser feito tem base em contratos com empresas estrangeiras e usando o dinheiro da riqueza mineral. Podemos dizer que qualquer um que chegar ao poder pode fazer umas flores. É verdade que os recursos só por si não realizam obra. Vimos isso durante vários anos. É fundamental a criação de ambiente para que o desenvolvimento aconteça, independentemente dos recursos, mas isso pode não ser tudo. É preciso que haja sustentabilidade nesse desenvolvimento.

3. E o argumento da corrupção? Alguns dizem-nos que para combater a corrupção devemos mudar quem está no poder. Também me parece pouco linear. Todos os que estão no GURN? E o uso deste argumento parece esquecer que os corruptos não são atraídos por nenhum partido em particular mas sim pelo poder e pela riqueza em si. Ou seja, não devemos ter ilusões. Quem quer que ganhe as eleições vai atrair para si pessoas que gostam de desfrutar do que o poder tem para dar. Também aqui temos de fazer um esforço conjunto seja qual for o partido que ficar no poder. E devemos todos entender que não é fácil mudar atitudes que se cultivam ao longo de décadas. Serão as espectaculares mudanças de partido por parte de alguns indivíduos, uma confirmação do que digo aqui em relação à atracção que o poder exerce sobre determinado tipo de indivíduos?

Se me perguntarem se só tenho dúvidas, responderei com firmeza que não, que tenho algumas certezas!
Que as mudanças que necessitamos ultrapassam o voto no dia 5 de Setembro. Que vão exigir muito mais persistência e terão que ser mudanças que se infiltrem na cultura de todos os partidos (e outras organizações). Para elas se concretizarem vai ser necessário lutar por elas com o voto, mas também antes do voto, e depois dele:
A necessidade de consolidarmos as instituições que temos, retirando-as do alcance da manipulação estreita, protegendo-as do uso ao serviço de interesses menores. É preciso começar desde já a lutar para corrigir a vergonha nacional que é a nossa imprensa pública, e contribuir para reforçar também uma imprensa privada séria e credível. É fundamental que todos, no poder ou na oposição, ajudem a criar uma imprensa ao serviço do País.
Reforçar a lealdade ao país antes da lealdade aos partidos mas, simultaneamente, reforçar os partidos como organizações que defendem um determinado modelo de sociedade. Enfraquecer a lealdade partidária que não estiver assente em ideias (que deverão ser traduzidas na prática, mais do que nos documentos).

Cada um de nós, armado apenas com um voto, está limitado na capacidade de concretizar o que refiro acima. Por isso, embora devamos todos votar, devemos também dedicar tempo e recursos para a acção com outros companheiros com quem partilhemos algumas das dúvidas, e das certezas, acima. Esta opção da acção cidadã, onde os direitos políticos se exercem para lá da colocação do voto na urna, é um caminho lento para produzir resultados, mas não vejo outro. Os atalhos podem ser viáveis para produzir infra-estruturas, não para criar relações sociais qualitativamente diferentes.

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