sábado, 26 de julho de 2008

Semear desconfiança

Vamos semear desconfiança! Parece ser o lema central de muitos políticos. Atenção que não estou a propor que se forme nenhuma plataforma pela promoção da desconfiança… Pelo contrário quero reflectir sobre o dano que isto causa.

Alguns exemplos desta prática de promoção de desconfiança, tão comum entre nós:
Afirmar ou insinuar que os que têm posições diferentes das nossas não são sinceros no que defendem mas que as suas motivações reais são escondidas e interesseiras. Desta forma não se chega sequer a discutir as tais posições, utilizando argumentos, indo-se em vez disso pelo atalho mais rápido de desvalorizar quem as defende.
Acusar os que se apresentam como alternativas de liderança dentro dos próprios partidos, como vendidos ao serviço do partido maioritário. É uma variante da linha anterior.
Especular que a possibilidade de realizar as eleições em dois dias é essencialmente uma estratégia para cometer fraude eleitoral. Aliás este fantasma da fraude eleitoral aparece de uma forma quase obsessiva no discurso de muitos políticos da oposição.

Permitam-me que discorra sobre o assunto esquivando-me, por enquanto, a analisar discursos específicos…

Acusar os opositores de não serem sinceros só contribuiria para informar o debate político – e, assim, para nos ajudar a escolher em quem votar – se fosse assente na apresentação de evidências. Isso permitiria também que o acusado se defendesse. Caso contrário apenas cria (reforça, dirão alguns) a ideia de que não se pode confiar nos políticos.

Acusar outros dignitários do mesmo partido – candidatos a líder, ex-líderes ou criadores de facções… – de serem vendidos, pode criar no eleitorado dúvidas sobre a solidez de um partido que conta entre as suas altas esferas, com gente que está à venda. Imaginem as tentações que os que estão em cargos públicos não têm que enfrentar e as oportunidades para serem comprados. Comprados por empresas (estrangeiras ou nacionais), comprados por governos estrangeiros (que no fundo agem muitas vezes como representantes das empresas dos seus países), comprados, enfim, por cidadãos que querem esta ou aquela facilidade. Se um partido não tem capacidade interna para afastá-los – pelo menos do grupo que disputa a chefia interna – é de questionar se conseguirá lidar com este mesmo problema se lhe dermos o mandato para governar. O argumento de que quem está no governo parece ter também dificuldades para lidar com o problema parece um fraco argumento para conquistar o voto de alguém. Talvez um tal argumento não faça mais do que ajudar a aprofundar a desconfiança que já existe e que apenas resulta em paralisia.

Especular sobre o fantasma da fraude sem se dar ao trabalho de buscar soluções técnicas ou outras, para diminuir a possibilidade de ela ocorrer parece contribuir também para o descrédito que apenas nos retira energia.

Deveremos então confiar em tudo e todos até termos provas em contrário? Talvez não… Sugiro antes que quem é candidato para liderar deve, em vez de choradeiras, propor mecanismos e soluções que ofereçam aos cidadãos mais controlo e, por isso, mais confiança.

Mas não tenhamos ilusões, mesmo com mecanismos políticos, administrativos, controlo social, eu sei lá… quando se permite que lideranças imorais cheguem ao poder os roubos ocorrem mesmo quando existem mecanismos de controlo – vejam a propósito o que se passou com os Estados Unidos e a “reconstrução” do Iraque, onde segundo estimativas de uma pesquisa da BBC se terão roubado 23 mil milhões de dólares (sim! 23.000.000.000 dólares).

Voltando à nossa reflexão. Não será que o que esperamos dos nossos políticos é que nos inspirem e nos incutam confiança e energia para colectivamente construirmos as mudanças de que Angola necessita? Não entendo o que procuram os “líderes” que promovem a desconfiança. Estou seguro que nessa procura dificilmente vão encontrar o meu voto…

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