sábado, 26 de julho de 2008

Santos a fazerem política?

Num meio tolerante em relação à batota e aos batoteiros é natural que acabem por ascender e chegar ao topo os cinturões negros da arte (não marcial) de pregar rasteiras, dar golpes baixos e fazer batota. Não será sequer justo criticar ninguém em particular por isso acontecer. Temos apenas de assumir que é assim.

Isto aplica-se a promoções no local do trabalho, à selecção de pessoal para um emprego (incluindo para juízes…), à selecção de empresas para executarem uma empreitada, à atribuição de notas a um estudante, às filas do trânsito e à decisão sobre quem passa primeiro, à atribuição de sentenças por juízes e até, em alguns casos, à atribuição do título de mulher mais bela de uma província…

Será de esperar encontrar no jogo político o uso de regras mais limpas que as usadas pela sociedade noutras situações? É claro que estou a simplificar e que nenhuma sociedade é homogénea. Há uns (indivíduos e grupos) mais batoteiros e outros mais cumpridores das regras para benefício comum. Estou pois a retirar da conversa as regras relacionadas apenas com convenções e que não se reflectem em interesses. Muitas pessoas, em Angola e noutras partes do mundo, entendem que a política – mesmo antes dos negócios – tende a ser o meio mais propício para o jogo baixo e a rasteira.

Um parêntesis: negócios e política até costumam andar de mãos dadas (mãos por vezes dadas por debaixo da mesa, por decoro…). Outras vezes não há nem decoro nem várias mãos… a mesma pode tratar da política e do negócio. É positivo que isso já começe a preocupar. Pelo menos ao nível do discurso dos políticos no poder isso já está presente, o que já é um primeiro passo. Mas também podemos imaginar os mais cínicos a dizer que a preocupação com a corrupção também está presente nos discursos deste a campanha eleitoral de 92 (até de criou uma alta autoridade para combater a corrupção) e nem por isso parece que o assunto seja realmente levado a sério… os menos cínicos poderiam defender que a falta de resultados no combate à corrupação é apenas uma questão de falta de eficácia, mais do que de falta de vontade.

Voltando à questão do tipo de jogo que devemos esperar dos nossos políticos, eu sou dos que acreditam que é fundamental sacudir os cinturões negro do golpe baixo das lideranças dos partidos, das lideranças dos países, das lideranças de seja o que for. A forma como se exerce o poder político acaba por se reflectir em quase tudo o resto. Daí a importância de forçar que o jogo político seja moralizado e moralizador. Mandela, Gandhi e outros já mostraram que isso não é impossível. Raro mas possível. Os políticos capazes de provocar mudanças profundas – do tipo da que necessitamos para acabar com o flagelo da pobreza e injustiça social que nos aflige – só podem ser pessoas com um profundo sentido moral.

Os Mobutus, os Idi Amins e os Mugabes, para falar dos piores, também nos demonstraram (infelizmente Mugabe continua a demonstrá-lo, e não se cansa…) o custo que tem para todos, quando se permite e apoia as lideranças imorais. Estes fizeram um trabalho profundo de “educar” sociedades a não premiarem o mérito mas apenas a lealdade (cumplicidade talvez seja a palavra adequada). Por vezes o mérito é castigado - se não for mérito associado à cumplicidade. Em sociedades como as estes “líderes” ajudaram a construir, a esperteza, a força e a falta de escrúpulos são qualidades bem mais importantes para singrar.

E nós em Angola? Estamos longe das lideranças à Mugabe, à Mobutu ou à Idi Amin… mas não me parece que estejamos a cultivar e a promover lideranças com moral e moralizadoras. São comuns os casos onde se premeia a cumplicidade e se pune o mérito. Sem dúvida que o aproximar das eleições oferece – se soubermos utilizar a oportunidade – a possibilidade de mudar, para melhor, este estado de coisas. E não apenas pelo voto, no dia das eleições. É fundamental que dentro de cada um dos partidos se começe desde já a construir essas mudanças. Considerando o nosso ponto de partida, isto terá de ser um trabalho de folego…

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