sábado, 26 de julho de 2008

Aldeia Nova

Estive recentemente no Wako. É um prazer! Apesar daquele troço de estrada depois da Quibala que não se percebe porque não se conclui, e da falta (quase criminosa) de sinalização que quer a estrada quer as pontes que ali se estão a construir apresentam, a verdade é que dá gosto visitar aquelas paragens. Para além da emoção de vermos o nosso País renascer, a beleza das paisagens é esmagadora.

Mas, de tudo o que vi, o Projecto Aldeia Nova foi o que mais me impressionou. Não é fácil ser-se absolutamente racional sobre algo que envolve tantos aspectos cruciais, como acontece nessa iniciativa. Há não só as questões económicas, importantes e que não se devem descurar, mas também, e principalmente, as de ordem social. E isso pode tornar o projecto perigoso, pois é fácil perder-se a objectividade quando se encontram razões que emocionalmente nos compelem a aceitar quase tudo.

O Projecto Aldeia Nova pretende integrar antigos combatentes, sem cor nem fronteiras, numa actividade que permita não só torná-los economicamente activos e auto-suficientes, mas também integrados socialmente, com condições de vida dignas para si e para a sua família. É um projecto que pretende colocar os que o integram, no mapa, outra vez, após anos de conflito e de aniquilação da estrutura sócio-cultural das suas comunidades de origem.

E o mais importante neste projecto, é que ele está a funcionar. Saiu do papel, e das apresentações mediáticas, para algo concreto, que está ali à vista de todos. É tremendamente gratificante ver as novas aldeias, alinhadas e brilhantes, como numa montra, com as suas gentes desfrutando do conjunto de serviços postos à sua disposição. È verdadeiramente animador ver a mais moderna tecnologia a ser empregue nos postos de recolha de leite, nos centros de criação de frangos, ou suínos, saltando-se gerações tecnológicas rumo ao futuro. As escolas, as casas com os seus jardins, e toda a infra-estrutura a funcionar.

É claro que há preocupações a que não podemos deixar de atender: a que custo se está a conseguir o que se pode ver? Qual a eficiência do pólo industrial? Que produtos estão a chegar ao mercado, e com que grau de competitividade? O modelo centralizado de gestão adoptado, não retira eficiência ao projecto? E, quem leu livros sobre a MOSSAD, pode mesmo ter outro tipo de preocupação…Mas a verdade é que não podemos deixar de reconhecer o enorme trabalho que ali está realizado. As centenas de famílias já integradas. Infra-estruturas recuperadas. O reanimar de uma região adormecida. A formação de uma geração que, em contacto com formas muito mais evoluídas de produção agro-pecuária, estarão em condições de, no futuro, tirar rendimentos muito superiores, e entender muito melhor todo esse processo.

O Estado de um país com a nossa trajectória tem que ter consciência das suas elevadas responsabilidades sociais, e da necessidade de investimento em acções que permitam potenciar-nos para competir no futuro com os outros países, nesse injusto mercado global dominado pelos países mais ricos. Não há outra forma que não esta, de investir em projectos complexos, integrando o máximo de angolanos, e colocando-os em contacto com a tecnologia mais recente, e as melhores práticas. E se esse investimento puder ser feito agregando justiça social, e uma equipa de gestão competente, então diria que estamos perante uma solução óptima. Foi algo assim que me pareceu ver no Projecto Aldeia Nova.

Que haja visão e ousadia para investir agora, para poder colher no futuro.

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