domingo, 21 de junho de 2009

Os pardais e as andorinhas

Os factos que relato a seguir são absolutamente fidedignos. As conclusões pode ser que sejam precipitadas, fruto de uma distorcida experiência de vida.

Tenho a felicidade de ter uma varanda onde os pássaros escolheram fazer ninho. Confesso que, numa reacção própria do género humano, a minha atitude inicial foi de preservação da propriedade, mas, felizmente, a razão falou mais alto, e logo me foi dado descobrir que era um verdadeiro privilégio partilhá-la com espécies que só podiam melhorar a minha relação com o espaço circundante.

Num dos extremos da varanda, num pequeno projector que ali tenho, os pardais foram os primeiros a manifestar a sua intenção de ali se instalarem. Num frenesim digno de nota, começaram a transportar pedaços de capim, transformando, num ápice, o projector num local de acolhimento que fazia pena. A técnica construtiva era uma desgraça, e os pobres pardais todos os dias tinham que devotar horas a remendar o que tinha sido tão mal projectado. Isso não os impediu de ocuparem efectivamente o local, levando-nos a não acender mais o projector, por razões óbvias, e desenvolverem a sua relação matrimonial, culminando com o gratificante aparecimento de novos seres, uma ninhada que ali foi criada. Mas dava dó, nos momentos que podíamos estar na varanda, ver o rodopiar dos pardais, a remendar o ninho, que, de tão mal feito, escorregava por todos os lados do projector.

Isto passou-se , e estavam os primeiros pardalitos criados, apareceram umas andorinhas que, no outro extremo da varanda, começaram a construir o seu ninho. Que diferença!. Num grupo de três, trabalhavam incansável e metodicamente. Uma técnica construtiva elaborada foi permitindo ver surgir perante os nossos olhos um refúgio de barro que apresentava características em tudo superiores ao dos seus vizinhos. Demorou. Numas longas três semanas, bicada a bicada, as andorinhas fizeram surgir o seu ninho de formas perfeitas, enquanto os pardais continuavam na sua tarefa de remendar o que tinham tão mal construído. Um dia vimo-las, finalmente, desfrutar do que tinham tão arduamente conseguido fazer. Os seus voos magníficos eram uma elegia ao esforço que tinham dispendido para fazer algo que parecia estar ali para durar.

Atrevi-me então, a tirar uma primeira conclusão: o esforço planificado com vista à obtenção de um produto de qualidade, ainda que demorasse mais a poder ser usufruído, valia a pena, pelas vantagens que traria no futuro. Estava feliz com a conclusão. Estava de acordo com os meus princípios, e era uma bela lição de gestão, e de vida..

Para minha surpresa, na semana seguinte, vi um ataque dos pardais à propriedade das andorinhas. Postavam-se à entrada do ninho, e procuravam impedi-las de a ele aceder. Eu não queria acreditar no que estava a suceder! As pobres andorinhas procuraram defender o que tinham construído com tanto esforço, mas debalde. A presença dos pardais, mais encorpados, acabaram por fazê-las desistir, e foi com uma enorme frustração que vi os pardais apoderarem-se do ninho que não tinham construído.

Ainda pensei interferir, mas achei por bem não tomar parte nos desígnios da Natureza, e foi com a alma sombria que retirei uma segunda conclusão: este Mundo é dos espertos, e não há, evidentemente, justiça. Nem sempre os que mais se esforçam são recompensados.

E foi com este estado de espírito que vi os pardais procriarem novamente, no ninho das andorinhas. Reconheço que não desfrutei como devia do espectáculo que constitui a alimentação dos pequenos seres. A boca aberta dos pardalitos disputando do bico dos pais o sustento. O seu trinar inseguro. Eles não tinham culpa, mas não podia deixar de pensar no que se tinha passado, e como os pais tinham agido para com os verdadeiros proprietários daquele espaço.

Os pardalitos cresceram, e procuraram fazer o seu primeiro voo. Não sei se pelo facto da configuração do ninho não estar adequada à sua espécie, acabaram por cair, e a minha cadela, uma pastora alemã que também gosta de estar na varanda, matou-os.

Decidi não retirar mais nenhuma conclusão. Hoje, os ninhos estão abandonados. E eu, com uma sensação incómoda que não consigo definir.

2 comentários:

Bruder disse...

E eu aqui a ler com todo o prazer as suas reflexões e " conclusões" sobre os pardais e andorinhas .. :)
De facto, os paralelismos "humanizados" não devem ter as mesmas leituras no mundo animal, e outras aves há que são mais matreiros. O " cuco" por exemplo.Ainda bem que a cadela rematou,e assim , na sábia cadeia do " mais forte" ela deu cabo das suas " teorias".

Anónimo disse...

Nossa fico chocada com que eu li agora,eu tenho um ninho de andorinhas em minha varanda e tbm de pardais.Gosto muito de andorinhas desde criança quando tinha 10 anos, meu pai faleceu! e quando minha mãe chegou em casa, logo vi que meu pai tinha falecido, ela chegou arazada morta por dentro!eu como era uma criança, olhava pela janela já entendendo o que se passava,por que meu pai desde a gravidez de minha mãe tinha decoscoberto que tinha cancer na garganta, eu nasci então nesta cituação.Amava muito meu paizinho ela era tudo pra mim, aos 6 anos descobri,por que correndo pelos corredores do hospital onde ele estava internado, parei atraz da porta entre aberta, escutei o medico dizendo a minha mae, que meu pai tinha menos de 5 meses de vida, que a doença já tinha tomado conta e que nao tinham mais o que fazer, eu fiquei arrasada, e falei com meu deus onde estava ele que nao vi meu paizinho no hospital!!!mas como desde criança aprendi a sofrer calada, voltei para quarto de meu pai e abracei ele profundamente e disse que ele era o melhor pai do mundo!!!e sabe o que aconteceu depois deste dia! ele viveu ate os meus 10 anos, ele era o pai mais lindo, mais educado, apaixonado por mim, e eu era a criança mais feliz por ter o meu paizinho em casa na noite de natal, quando foi nosso ultimo natal juntos, ele nao tinha dinheiro tadinho so para um domino e uma bolinha..estas de plastico, mas a arvore de natal o prespio e nossa familia junta na noite de natal é que valia muito mais do que qualquer coisa...e no dia que ele morreu, eu olhava debrusada na janela da sala de minha casa eu estava chorrando e quando surgiu um bando era muitas andorinhas elas faziam manobrar incriveis eu naquele instante parei e sorri muito fiquei feliz parei de chorar e entendi que elas vieram buscar meu paizinho querido e levarão ele para o céu...José Alves Bueno Sobrinho a pessoa mais linda deste mundo e ajudou muitas pessoas e ajudava e amava a natureza ele me ensinou a respeitar e amar tudo que ele amava.Esse foi meu pai, Hoje tenho 28 anos estou casada a 1 ano e recestimente nos mudamos para nossa casa nova onde eu tenho o pregilegio de ter como amigos e vizinho as andorinhas e os pardais vivendo em harmonia, seus filhotes estão saindo do ninho!eu fico a admirar como pode tudo ser tal lindo assim...muito Obrigada por ter escrevido este texto hoje lendo fiquei feliz em estar anparada e feliz ao lado das andorinhas lindassss por que uma andorinha só! não faz Verão...obrigada fique feliz e um feliz natall e um prospero ano novooo
Att,
Luciana Bueno POA