quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Vitória do Mérito

Não sou dos que acreditam em milagres. Prefiro acreditar que os resultados são a consequência do sacrifício consentido, do trabalho, e da capacidade que se tem de análise da situação sobre a qual se pretende intervir. Estou consciente que nem sempre o resultado é directamente proporcional ao esforço desenvolvido. A quantidade de factores que pode influenciar o resultado, em particular em experiências com forte componente social, é tão grande, que nunca é possível saber com absoluta certeza o que vai finalmente acontecer. E é claro que quando há factores que influenciam o resultado, tal como a corrupção, o nepotismo ou o preconceito, pode não haver esforço que resulte.

A vitória de Obama foi uma pedrada no charco da política tal como usualmente é feita. Se é verdade que o estado actual da economia americana, e a sua precária posição internacional, onde o nível de contestação às suas políticas está em crescendo, criaram condições especiais, que acabaram por afectar o órgão mais sensível dos americanos, o bolso, não deixa de ser notável a eleição de um presidente de uma das minorias, num país tão marcado por fracturas criadas na base do preconceito. Há, no entanto, um enorme conjunto de perigos na sua trajectória como presidente do país mais poderoso do mundo, o mais pequeno dos quais não é, certamente, o excesso de expectativa que todos têm no seu desempenho. Como me disse um amigo, parece que chegou o novo Messias! E aí voltamos aos milagres…

Os desafios que se colocam a Obama são enormes. Ele tem não só que reverter a tendência da economia nos Estados Unidos, como melhorar a prestação ambiental resolvendo o problema energético e não afectando a competitividade da indústria, manter o papel de liderança do seu país sem ferir as pretensões dos seus aliados, controlar as potências emergentes, sair do Iraque com um mínimo de dignidade, combater os extremismos, agradar aos seus eleitores e ainda ser o ‘nice guy’ que todos esperamos que olhe para o Terceiro Mundo de forma diferente.

Não podemos esquecer que o poder de qualquer presidente, e em particular nos Estados Unidos da América, não é tão absoluto como se pode pensar. O homem mais poderoso do mundo tem que satisfazer uma infinidade de grupos de pressão, para além de lobbies poderosíssimos como o dos petróleos e o da indústria do armamento. E tem que sobreviver!

Mas o importante desta eleição é que parece que estamos perante alguém que não só é brilhante, mas genuíno nas ideias e posições que defende. Alguém que não parece; à partida, comprometido com os elementos mais nocivos do sistema, mas que, pelo contrário, tem um assinalável percurso de intervenção social. Alguém que herdou uma situação que lhe permite pensar na mudança de uma forma muito mais radical que os seus antecessores, pois existe uma predisposição para tal, dada a gravidade da situação. Alguém que foi eleito, apesar de todos os obstáculos que lhe foram colocados. Apesar dos fantasmas que foram sendo evocados.

O importante desta eleição, foi termos assistido a algo diferente, bom e reconfortante: uma rara vitória do mérito sobre o preconceito.

Uma lição sobre a qual nos cabe reflectir.

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